Trauma cranioencefálico
O
trauma cranioencefálico (TCE) é considerado a principal causa de morte em
adultos jovens. Aqueles que sobrevivem, frequentemente desenvolvem invalidez,
comprometendo o trabalho e as atividades sociais. O crânio é uma estrutura rígida que
tem a função de proteger o cérebro. Este, por sua vez, se divide em três
segmentos principais: cérebro, cerebelo e tronco cerebral.
Os
TCEs podem ser classificados em três tipos, de acordo com a natureza do
ferimento do crânio: traumatismo craniano fechado, fratura com afundamento do
crânio, e fratura exposta do crânio. Esta classificação é importante, pois
ajuda a definir a necessidade de tratamento cirúrgico.
Sob
a estrutura óssea, encontramos três membranas denominadas meninges, que
recobrem o cérebro. A membrana externa aderida ao crânio é chamada de
dura-máter; abaixo dela encontra-se a membrana aracnóide, aderida frouxamente
ao tecido cerebral e aos vasos sanguíneos, e a pia-máter, última membrana que
reveste diretamente o cérebro.
Para
proteger essas estruturas, temos o líquido cefalorraquidiano (LCR), substância
transparente rica em nutrientes, que circunda o cérebro e a medula espinhal,
funcionando como um amortecedor de impactos localizado no espaço subaracnóideo.
A
pressão encontrada dentro do crânio é chamada de pressão intracraniana (PIC) e
reflete a relação entre as estruturas como cérebro, sangue e LCR e o volume do
crânio.
Normalmente,
a pressão de perfusão cerebral (PPC) se mantém contínua e permite o fluxo
sanguíneo cerebral (FSC) constante, podendo haver alterações importantes de
menor ou maior gravidade dependendo da energia envolvida no momento do trauma.
Em
resposta a este evento ocorre um mecanismo fisiológico de proteção, provocando
a redução do LCR e do sangue, com o objetivo de manter a PPC em torno de 60 a
70mmHg.
Durante
este período, o cliente apresenta-se assintomático e a PIC dentro dos
parâmetros normais. Quando esse mecanismo compensatório se esgota, ocorre
aumento da PIC, o que chamamos de hipertensão intracraniana.
Para
que seja feito o controle da PIC é necessário que o paciente seja encaminhado à
unidade de terapia intensiva (UTI).
A
instalação de lesão depende do tipo de aceleração, da intensidade, da direção
do movimento da cabeça e do tempo de duração da aceleração .
Na
lesão focal, a energia envolvida é menor, provocando um choque entre o crânio e
o cérebro, diferentemente do que ocorre na LAD, onde o aumento de energia
resulta na compressão, tensão ou cisalhamento.
Com
isso, há uma laceração dos axônios e degeneração da substância branca. Neste
caso, frequentemente o dano cerebral é irreversível, não sendo possível
recuperação total da integridade funcional do tecido agredido.
A
classificação do TCE nos dá a dimensão do agravo nos seguintes aspectos:
mecanismo, gravidade e morfologia. Em relação ao mecanismo, o trauma pode ser
fechado ou penetrante. As lesões cerebrais envolvendo o crânio e suas
estruturas internas são decorrentes de mecanismos fechados como acidentes
automotores, quedas e agressões. No mecanismo penetrante, os ferimentos são
provocados por arma de fogo ou arma branca como objeto pontiagudo e lâminas em
geral.
Quanto
à morfologia, as lesões podem ser extracranianas, com a presença de lacerações
do couro cabeludo, e intracranianas, quando há contusões, hemorragias ou lesões
cerebrais difusas.
As
fraturas de crânio estão presentes em 80% dos casos fatais. Apesar desse
índice, as lesões cerebrais graves se desenvolvem independente da presença de
fraturas .
Em
relação à gravidade, utiliza-se a Escala de Coma de Glasgow para se avaliar uma
pessoa com TCE. Escore abaixo de 8 são considerados “grave”, de 9 a 12
“moderados”, e de 13 a 15 “leves”.
Avaliação primaria do TCE
A
lesão secundária se desenvolve a partir de processos contínuos desencadeados
após a lesão primária. Sua evolução é lenta e pode levar horas, dias ou semanas
em decorrência de causas intracranianas relacionadas aos sangramentos e edemas
ou, ainda, extracranianas, instaladas a partir de estados de hipotensão,
hipóxia, hipoglicemia/hiperglicemia, anemia e hipocapnia/hipercapnia. Todas
evitáveis do ponto de vista de tratamento e assistência.
Vítimas
de TCE frequentemente apresentam lesão de partes moles da face que, por se
tratar de estruturas altamente vascularizadas, levam a um alto risco de
obstrução de vias aéreas pela presença de hemorragia.
O
atendimento inicial prioriza as lesões que ameaçam a vida, e o tratamento
específico da lesão de face será realizado após a avaliação secundária.
Entretanto, os melhores resultados estéticos, funcionais e psicológicos estão
associados ao tratamento precoce destas lesões.
A
- Ao avaliar permeabilidade da via aérea, fique atento ao trauma de face.
Frequentemente o sangramento é o principal problema devido ao risco de
obstrução. A aspiração deve ser realizada com cautela e a inserção da cânula de
guedel nos clientes inconscientes pode piorar a lesão na cavidade oral e
aumentar o sangramento
B
– Avaliar a respiração. O padrão respiratório pode estar alterado devido ao
TCE. Monitorar os níveis de oxigenação por meio da oximetria de pulso. A hipóxia
é um dos componentes mais nocivos ao cérebro lesado e responsável pela lesão
secundária. Pneumotórax hipertensivo e tamponamento cardíaco provocam
instabilidade hemodinâmica e a piora das lesões cerebrais traumáticas (LCT).
C
– Circulação e hemorragias. A instabilidade hemodinâmica corrobora para pior
prognóstico dos clientes com lesões cerebrais. Hemorragias externas devem ser
contidas e sinais sugestivos de sangramentos internos confirmados e tratados em
detrimento das lesões cerebrais. A Pressão Arterial Sistólica (PAS) deve ser
mantida acima de 90 mmHg para os clientes com LCT.
D
- Estado neurológico. Observe se há alterações de comportamento (orientado,
confuso, sonolento, agitado ou irresponsivo), veja se as pupilas encontram-se
desiguais e se reage à luz. Nessa etapa da avaliação, a atenção está voltada
para as alterações relacionadas à lesão cerebral.
Contudo,
paralisia facial decorrente de lesão do nervo facial pode estar ausente no
início da avaliação, tornando-se evidente após compressão ou manipulação da
lesão merecendo uma nova avaliação e abordagem cirúrgica
E
- Retire as vestes da vítima e observe presença de lesões críticas ou
deformidade de membros; múltiplas fraturas costumam provocar perdas sanguíneas
significativas, gerando estados de hipotensão, sendo extremamente deletério
para o cérebro lesado. É necessário mantê-lo aquecido.
Avaliação secundária
Palpe
a cabeça, procure por abaulamentos (hematoma subgaleal), ferimentos,
sangramentos, crepitações e afundamentos dos ossos da cabeça. A presença de equimose
periorbital (olhos de guaxinim), equimose retroauricular (sinal de Battle),
fístula liquórica pelo nariz (rinorreia) ou pelo ouvido (otorreia) são sinais
clínicos sugestivos de fraturas de base de crânio.
Esses
sinais podem aparecer imediatamente após a lesão ou demorar alguns dias para se
tornarem evidentes. Sangramento pelo ouvido deve ser cuidadosamente avaliado
quanto à sua origem, se provenientes de lacerações auriculares ou otorragias
que estão diretamente relacionadas com o TCE.
Observe
se o cliente mantém motricidade preservada nos quatro membros, avalie força
motora (peça para apertar sua mão), fique atento às queixas de dor, dormência
ou paralisias. Sinais de decorticação (flexão dos MMSS e rigidez e extensão dos
MMII) falam a favor da herniação das estruturas cerebrais ou, ainda,
descerebração (os membros ficam estendidos), conotando uma situação de maior
gravidade devido à isquemia cerebral causada pela compressão dos tecidos.
Reavalie
o nível de consciência (repita as perguntas feitas no início do atendimento,
observe se as respostas são as mesmas). Houve alteração no tamanho e reação das
pupilas? Observe se estão puntiformes (mióticas) ou dilatadas (midriáticas), se
apresentam diferença de tamanho (anisocórica) e se reagem à luz. Lesões
cerebrais em expansão após trauma provocam dilatação da pupila do mesmo lado do
impacto (lado ipsilateral).
As
lesões de tronco encefálico ou lesões expansivas comprometem diretamente a
frequência cardíaca, pressão arterial e o padrão respiratório, por isso é
necessário manter esses parâmetros monitorados continuamente.
Pacientes
com mecanismo de trauma para TCE e que fazem uso de anticoagulante devem ser
rigorosamente monitorados quanto aos sinais de sangramentos intracranianos.
Informação referente à perda de consciência após o trauma fala a favor de lesão
intracraniana, sendo um dado importante que merece, no mínimo, ser investigado
pelo neurocirurgião por meio de exames de imagem.
As
lesões cerebrais são confirmadas com a realização de exames de imagem como
Raio-X de crânio, que permite a visualização apenas das estruturas ósseas
(fraturas). Para a identificação das lesões intracranianas é necessário a
tomografia de crânio.
Embora
o mecanismo fale a favor deste tipo de lesão e o exame físico e neurológico
mostre alterações compatíveis com LCT, o tratamento definitivo á depender da
confirmação da lesão por meio de exames de imagem.
Todos
os clientes admitidos no pronto socorro com mecanismo de trauma sugestivo para
TCE, após avaliação primária e secundária feitas pelo cirurgião geral, serão
submetidos a exames diagnósticos e avaliação do neurocirurgião. Vítimas com TCE
leve farão apenas a radiografia do crânio para pesquisar fraturas. Na ausência
de fraturas e de sintomas, ele recebe alta com orientação.
Se
for identificada fratura, ele permanece em observação
A
craniotomia costuma ser indicada para as lesões focais, com a drenagem dos
hematomas, hemostasia do foco hemorrágico, limpeza nos casos de fraturas
expostas e afundamento de crânio, correção da dura-máter e cranioplastia.
Mediante
confirmação das lesões difusas, o tratamento fica restrito em prevenir as
lesões secundárias com o controle da PIC. Neste caso, a continuidade do
tratamento será feita na unidade de terapia intensiva (UTI).
Nas
lesões de face, o controle do sangramento é feito através dos métodos
disponíveis de contenção, podendo alguns desses procedimentos serem feitos na
sala de emergência, como: a compressão direta da lesão, exploração da lesão e o
tamponamento anteroposterior. Para isso, é importante que você providencie os
materiais necessários e auxilie na realização A
redução das fraturas, angiografia com embolização do vaso e ligadura das
artérias carótidas externas e temporais devem ser realizadas no centro
cirúrgico, podendo ser feita concomitante aos outros procedimentos.
Nas
lesões de partes moles da face, a avaliação de especialistas como cirurgião
plástico, otorrinolaringologista, oftalmologista, neurocirurgião e bucomaxilofacial
é necessária quando houver comprometimento das estruturas envolvendo as
respectivas especialidades. Perda da força motora no lado contralateral do
impacto pode ocorrer devido à compressão dos nervos motores que se cruzam na
medula.
Boa noite, gostaria de parabenizá-la pelo texto, muito bem explicado e técnico vai me ajudar muito nas provas. abraço
ResponderExcluir